quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Morro do Sabiá: história e requinte

No finalzinho do século 19, primórdios do bairro Ipanema, todo o Morro do Sabiá, vizinho da Pedra Redonda, pertencia ao Barão Von Seidel, um solteirão que construiu uma platibanda sobre a figueira mais alta do morro para ver as caravelas entrarem no Guaíba. Entre as embarcações, estavam aquelas que traziam imigrantes, a maioria alemães, a Porto Alegre. Eram viajantes que, ao visitar a região, então Província de São Pedro, deixaram importantes testemunhos acerca da história da cidade.
Tempos mais tarde, as terras que hoje compreendem o Morro do Sabiá foram adquiridas por Oscar Meyer, um rico comerciante, proprietário de imóveis e lojas no Centro da cidade. Relata a família que, antes das terras serem de Oscar, elas pertenciam a Otto Niemeyer, nome conhecido na Zona Sul.
No final dos anos 1920, durante a administração de Alberto Bins (1928/1937), com as transformações de Porto Alegre, Meyer obrigou-se a vender seus prédios situados no Centro. A abertura de novas ruas, de avenidas e a construção do Viaduto Otávio Rocha exigiu a demolição de suas lojas que ficavam no meio do caminho (atual Avenida Borges de  Medeiros).
Apesar da reação contrária à demolição, liderada por intelectuais da época, os imóveis de Oscar foram demolidos. Com o dinheiro da indenização ele pôde comprar as terras em Ipanema. Nem sonhava ele que, um dia, o local se transformaria na "Vila Clotilde", uma belíssima chácara, às margens do Guaíba, homenagem a três gerações de mulheres da família.
A chácara dos Meyer, antes apenas um extenso matagal, tornou-se modelo em Ipanema. Um lugar refinado e com ares de parque inglês. Foi Oscar Meyer, o primeiro plantador de coníferas da região, arborizando um grande espaço e preservando a magnífica Mata Atlântica. Chamado de louco pelos amigos por ter se enfiado naquele fim de mundo que era Ipanema, ele plantou, juntamente com um grupo de jardineiros, toda a grama (relva inglesa) do parque.

          Moradores em foto na Vila Clotilde Colégio Anchieta comprou parte da área

A chácara abrangia toda a montanha, desde a antiga Estrada da Pedra Redonda, hoje Avenida Coronel Marcos, até a beira da praia que, na época, apresentava águas límpidas, perfeitas para o banho. Uma vez que o desejo de Oscar era uma casa de veraneio para a família, o lugar era perfeito. A Vila Clotilde encantou, como ainda encanta, os porto-alegrenses e visitantes de Ipanema.
Tempos mais tarde, porém, diante de dificuldades para administrar tão extensa área, Lya Bastian Meyer, filha de Oscar, vendeu parte da propriedade a terceiros. Entre os compradores estavam a Fundação Ruben Berta _ Associação dos funcionários da VARIG, no início dos anos 1970,a Associação dos Antigos Alunos Maristas de Porto Alegre (AAAMPA), hoje Colégio Marista Ipanema, no final dos anos 1950. O topo do morro passou então a ser de uso exclusivo dos alunos e professores do Colégio Anchieta, aquisição feita em 1949.
O centro da chácara, onde se avista a linda moradia _ uma casa de cinema em estilo alemão, ainda permanece com a família, descendentes de Oscar e Clotilde.

               Jovens da época no Morro do SabiáTerreno escapou de virar cemitério

Maria Helena, uma das descendentes de Oscar e Clotilde, nos conta que: "Um fato curioso envolveu esta venda. Eu frequentava o Instituto Cultural Norte-Americano, cuja bibliotecária D.Haydée Leão Madureira era amiga da D. Lya. Pois bem, em uma tarde, após uma revisão médica, eu passei por lá. D. Haydée, um tanto constrangida, perguntou-me se era verdade que parte da chácara estava sendo vendida. Respondi-lhe que sim, e que o arras seria assinado às 17h. Ela então perguntou se eu sabia quem seria o comprador. Dei o nome de uma instituição conhecida, e acrescentei que eles construiriam ali um local para abrigar pessoas especiais. Só então ela revelou que a dita instituição estava servindo de testa de ferro para um cemitério arborizado, com crematório".
Maria Helena, ao relatar o fato, concluiu aliviada que, felizmente, houve tempo para desfazer o negócio e o encantador e histórico Morro do Sabiá continuou sendo dos vivos, para alegria dos moradores de Ipanema e das redondezas. Permanece um lugar aprazível, onde a natureza ainda cumpre a sua função de encantar.

blogueira: Janete da Rocha Machado nos brinda com mais lembranças do passado na Zona Sul.




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