sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O empreendedorismo de Juca Batista


Durante muitos anos, o arroio Capivara, atualmente  situado no bairro Ipanema,  foi a fronteira entre as escassas fazendas e o Guaíba. Entre elas, encontrava-se a gleba de João Batista de Magalhães, mais conhecido por Juca Batista, um próspero comerciante e estancieiro de origem portuguesa que empreendeu nas terras deixadas por seu pai, cerca de 80 hectares, um império fundamentado no trabalho e na ajuda ao próximo. Era a vida organizando-se em torno das estâncias, símbolo do gaúcho e do estado.

Nascido em 29 de setembro de 1870, Juca Batista soube aproveitar a prodigiosa natureza da região, desenvolvendo a plantação de árvores frutíferas e a criação de gado leiteiro. A extensão de suas terras abrangia desde o Belém Velho até o atual Ipanema. Sua residência ficava nas imediações da avenida que hoje leva seu nome, estrada que, no passado, apesar do chão batido, era a única possibilidade de deslocamento entre o centro e a zona sul da cidade. O asfalto só viria bem mais tarde, na década de 1930, uma iniciativa do então vereador Flores da Cunha, na época, padrinho de Juca. Também eram limites de suas terras, a Lomba do Capitão Alexandre, atualmente conhecida por estrada da Cavalhada e as terras de Bernardo Dreher, onde hoje está a Pedra Redonda, o Jardim Isabel  e o Morro do Osso.

Por muitos anos Juca Batista empreendeu ações em prol da comunidade carente, tanto do seu bairro como dos vizinhos. Deslocando-se, de barco, pelo rio, fornecia produtos oriundos de sua fazenda a outras regiões da cidade. Em 1896, forneceu as primeiras mudas de árvores frutíferas e verduras aos pioneiros colonos da Vila Nova. Também mantinha, por meio de um trabalho social, algumas instituições de caridade, entre elas a Santa Casa de Misericórdia, o Pão dos Pobres e o Asilo Padre Cacique, desenvolvendo assim, seu lado filantrópico.

Fundador da primeira casa comercial no bairro, local em que se podia comprar desde o alfinete até alimentos perecíveis como açúcar e café, Batista doou uma parte de suas terras para a construção do cemitério da Vila Nova e para a Escola Estadual Odila Gay da Fonseca em Ipanema. Atualmente, o nome Juca Batista é lembrado em avenida e linha de ônibus que liga Ipanema ao centro de Porto Alegre, uma forma de lembrar pelas realizações e homenagear aquele que foi um dos primeiros empreendedores da região.
                                                              
Juca na Praia de Ipanema/1949
                                                                            

Fonte: http://janeterm.wordpress.com/category/personalidades-de-ipanema/

Formação do Bairro Ipanema

Roberto Pellin na sua barata conversível, acompanhado do amigo Jorge Sarmento em plena avenida Guaíba em IPANEMA/1936.

Sociedade de Terrenos Balneário Ipanema LTDA

Sobre os primeiros tempos do bairro Ipanema e seu processo de loteamento, conta  Roberto Pellin em sua obra “Revelando a Tristeza”, volumes I e II. Segundo este autor, as terras onde hoje está assentada parte do bairro foram compradas pelo seu pai nos anos 1920: “Em 1926, fomos morar na Serraria, de onde foram extraídas as pedras para a construção do Cais do Porto. Meu pai era o capataz, dirigindo mais de cem operários. Nesta época ele comprou uma área onde é hoje Ipanema”. Os limites dessa imensa propriedade eram, de um lado, a grande margem do Guaíba, formando a enseada, desde as terras do seu João Batista Magalhães, o Juca Batista, indo até o outro lado, ou seja, os eucaliptos da Chácara das Flores, de propriedade do seu Otto Niemayer, hoje, Rua Déa Coufal.

Tempos mais tarde, toda a região foi comprada pelo grupo de empreendedores formado por Oswaldo Coufal e os irmãos Agrifoglio. Já prevendo a possibilidade de crescimento do novo bairro que surgia, apresentaram à família Pellin, um projeto de loteamento, objetivando a compra de toda a região. “Lembro-me que eles abriram um mapa sobre a mesa e mostraram o projeto do balneário, dizendo que já estava tudo aprovado pela prefeitura” (Pellin).

Corria o ano de 1930 e após algumas investidas do grupo, pois a família oferecia resistência à venda, as terras onde estava o coração do bairro foram vendidas. Tão logo se fechou o negócio, iniciaram-se as obras na região. “Posteriormente retornei ao local várias vezes, assistindo às obras. Não havia máquinas. Todo o trabalho era braçal, feito com enxadas, pás e carrinhos de mão, rodando sobre filas de tábuas, para remover a terra, no preparo das ruas” (Pellin).

Para facilitar o processo de loteamento e venda dos terrenos foi feita uma “obra faraônica”, como diz Padre Antônio: “desviar o curso do arroio Capivara, abrindo um valão de 460 metros lineares até atingir o Guaíba e aterrar o antigo. Essa façanha marcou o início das obras do Balneário Ipanema” (Padre Antônio). Também foram feitas outras obras de infraestrutura na região, entre elas, a abertura da Avenida Coronel Marcos, via que ligaria o novo bairro ao centro de Porto Alegre.

A Sociedade de Terrenos Balneário Ipanema LTDA, representada por Manlio Prati Agrifoglio, Ariosto Agrifoglio e Oswaldo Coufal, este último, na figura de seu sócio-gerente, comprou também as terras pertencentes a Otto Niemeyer em 1931, o qual, por sua vez, havia comprado de Antônio José Flores e esposa em 1915. Em 1924 Otto Niemeyer, comerciante na Tristeza e sua esposa, dona Amália, compraram de José Abbuzzino e sua esposa , dona Deothilde, uma faixa de terras no Passo da Capivara, Quinto Distrito de Nossa Senhora do Belém Novo. Em seguida, Otto adquire também as terras do seu lindeiro, Antonio José Flores, em outubro de 1925, e fica de posse de tais áreas durante 7 anos, até, em 1931, vendê-las ao Dr. Oswaldo Coufal, engenheiro e empresário de Porto Alegre. Todas as terras adquiridas por Coufal em Ipanema foram loteadas para a formação do bairro e do balneário na década de 1930. Conforme ofício do Registro de Imóveis do Município de Porto Alegre:

“A Sociedade de Terrenos Ipanema LTDA, sociedade civil, registrada no Cartório de Registro Especial desta Capital, em 1º de abril de 1931 (…) vem declarar o seguinte: que é possuidora do imóvel constante de um terreno denominado Balneário Ipanema, sito no 6º districto, 2ª zona desta capital, lugar denominado Ipanema. (…) que o plano de loteamento foi aprovado pela Prefeitura como prova a planta do documento nº 2. Que a planta citada o respectivo loteamento foram executados pelo Engenheiro Oswaldo Coufal, inscrito no Conselho Regional de Engenharia e Architectura, sob nº 717.7”.


                                   Caixa d'água na praça principal de Ipanema
Assim, toda a área foi lentamente urbanizada. A pavimentação das ruas foi feita com pedra irregular extraída da pedreira existente no local e o serviço de captação e distribuição de água para as casas de veraneio era feito, inicialmente, direto do rio, e posteriormente, por meio de poços artesianos e de um grande reservatório construído na praça central. A energia elétrica era distribuída a partir de um gerador próprio e por um tempo limitado de uso diário. Desta forma, os meses de veraneio, férias e calor eram ansiosamente aguardados por todos aqueles que gostavam de Ipanema e que tinham casas na região.

Fonte:http://janeterm.wordpress.com/2012/02/17/formacao-do-bairro-ipanema-parte-i/#more-317